Porto, 12 Dez (Lusa) - A Associação de Feirantes do Distrito do Porto manifestou hoje "tristeza e indignação" com o destino traçado para o Mercado do Bolhão, que vai ser renovado por uma empresa holandesa.
Em nota enviada à Lusa, o presidente da associação, Fernando Sá, considera "lamentável que se tenha de entregar a concessão de um espaço camarário a terceiros para o reabilitar".
O texto sublinha que "é por demais sabido, que projectos não faltaram", nomeadamente o do arquitecto Joaquim Massena, na década de 80 do século passado.
Na opinião dos feirantes portuenses, o projecto de Massena teria a vantagem de "manter vivo o tecido físico do mercado, com novos conceitos de uso, novas funções e valências e novos horários de funcionamento".
Fernando Sá lamenta que não tenham "servido para o Bolhão os milhões dos anteriores quadros comunitários", e pergunta porque "continuam a não servir os do actual QREN"
"Será apenas falta de vontade politica dos sucessivos executivos camarários que se debateram com esta questão?", interroga-se.
Os feirantes portuenses atribuem às obras do metro do Porto o facto do edifício, "ou pelo menos parte dele", estar em perigo de ruínas, e acham curioso que a empresa do metro "nunca seja responsabilizada pelas suas acções"
Para a associação há quem queira "fazer crer que o Bolhão continuará a ser o Bolhão, aquele onde se entoam pregões desde 1850 e que atrai à cidade milhares de visitantes, mas tal não é de acreditar"
"Os que entoam os pregões, os comerciantes, poderão ser gravemente prejudicados", sustenta o texto dos feirantes portuenses.
Referem ainda que o projecto vencedor será concretizado, "mais uma vez, em detrimento da cultura, dos usos, dos costumes, da tradição, do respeito, e sob o poderio dos grandes grupos económicos".
"Esperamos que o IPPAR não se esqueça deste exemplar da arquitectura civil comercial na sua avaliação", afirma o documento, lamentando que "os movimentos cívicos que, em época de eleições se moveram pelo Bolhão, não se manifestem".
O presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, anunciou, quarta-feira, que a empresa de capitais holandeses Tramcrone venceu o concurso para a renovação do Mercado do Bolhão, com uma proposta de investimento de 50 milhões de euros.
Em conferência de imprensa, Rui Rio referiu que "o objectivo é que o Mercado do Bolhão abra dentro de dois anos, no Natal de 2009".
O autarca disse também que, antes que as obras se iniciem, é necessário ainda que o projecto de execução seja elaborado e aprovado pelo Instituto Português do Património Arquitectónico (Ippar).
O "novo" Mercado do Bolhão vai manter a traça original e partilhar a área comercial tradicional com novas lojas, cerca de metade das quais de cultura, lazer e restauração.
A Tramcrone vai construir dois pisos subterrâneos para cargas e descargas e estacionamento, com capacidade para 216 automóveis, e um piso intermédio entre os dois actuais pisos comerciais.
LM/FZ.
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